Diário de uma pastoral hospitalar - -Benedita: A totalidade de Mãe

06/09/2011 23:18

 Era mais um dia de visitas ao hospital de base de Brasília. A semana havia sido muito exaustiva no curso de filosofia. Ainda mais aquele sábado em que tivemos vários trabalhos para apresentar e eu estava na copa do seminário. Chegando ao hospital como de costume aconteceu à divisão das duplas para o mês. Tive a alegria de partilhar este mês com meu irmão Juscelino, humilde e dotado de uma paciência. Ambos confessamos antes mesmo de entrar no hospital que estávamos sem ânimo e muito exaustos. A área onde fomos designados é o setor da emergência. Como todo hospital público em nosso país encontra-se situações de lotação com pacientes pelo corredor do recinto. Assim que chegamos fizemos um pequeno momento de oração pedindo ao Senhor da fortaleza que nos concedesse coragem e ânimo para nossa missão.

 

Ela estava lá. Num descanso meio sonolento, meio desperto. Seu marido lhe acompanhava. Os dois muitos simpáticos. Benedita era seu nome. Benedita que provém de bendita, e como era bendita aquela mulher! Seu sorriso em si já bendizia a Deus. No seu rosto havia as marcas de uma coragem firme, de um ânimo forte. Bastou aquele sorriso para trazer aos nossos corações o ânimo e a coragem. 

Benedita tem sua casa no Mato Grosso, mas por cinco anos faz tratamento contra uma doença renal no Hospital de Base de Brasília. Participa da Congregação cristã no Brasil, Igreja pela qual em suas palavras ela "saiu de uma vida de apenas ócio e miséria religiosa”, diz isto por não ter, segundo ela, experimentado uma vida de devoção e fé. E suas palavras eram como uma catequese, mesmo sendo de outra denominação! E que palavras de vida e história! Que fio de ouro foi tecido na vida daquela mulher. Uma cura das coisas do passado. Uma vivência evangélica do presente. “O sofrimento é a porta que nos faz passar ao Pai". Ah Benedita que palavras de vida foram estas! Que amor era este! 

Benedita era uma mãe na totalidade da palavra. Mãe no sentido mais pleno do termo. Tiveram dois filhos naturais, estes dos quais ela fala com amor. Cuidou, educou e formou cada um para o bem. Com seu marido, ambos professores do ensino fundamental e alfabetização, tratou de fazer dos filhos homens de bem. 

 Benedita não bastava os dois filhos que você tinha? Não. Benedita é mãe no total da palavra. Sabendo que próximo a sua casa uma moça queria abandonar seu filho na rua, ela correu em reter para si aquele pequeno. Acabou por adotar mais um filho. Este ao qual ela ama com carinho de uma mãe admirada pela vida. Cuidou e educou a este filho, como cuidou e educou aos outros. Benedita tinha um sentimento de amor pelos seus filhos. E toda vez que falava deles chorava com saudade. Um choro de uma saudade materna, como o choro de tantas outras maternas saudades que se encontram no mundo. 

Este filho adotado acabou por envolve-se com uma determinada moça, com qual teve uma filha. Ocorreu que a mãe da criança não aceitava a sua gravidez e ameaçou para Benedita de fazer um aborto. Gritante foi no coração daquela mãe estas palavras. Não só no coração de mãe, mas agora também de avó. O amor brotava novamente em seu coração e Benedita não se rogou. E não podendo conter sua vocação para ser mãe ela acabou criando também a neta,porque uma mulher como Benedita nasceu vocacionada a maternidade. 

E Benedita se tornou a totalidade deste dom. E Mãe que gera os seus para a vida. E mãe que gera na vida os que ela a concedeu. E mãe que gera de novo o que estava para morrer. Benedita não é só mãe. Ela é mãe no mais pleno sentido da palavra. 

 
 
 
 
 
Por: Sem. Raifran Sousa ,1° ano de filosofia.