Vocação e a espiritualidade quaresmal - Bruno Sales
Conforme as palavras do Santo Padre, o Papa Bento XVI, esta Quaresma é tempo providencial para retomarmos o nosso batismo e vivermos de acordo com a principal vocação humana, a de sermos filhos de Deus, herdeiros da Salvação. É neste intuito que devemos lembrar que pelo batismo recebemos, em primeiro lugar a Graça e depois a tríplice missão de sermos sacerdotes, profetas e reis. Nos tempos hodiernos, assumir esta vocação é tarefa que cabe muito esforço pessoal e convicção para se viver verdadeiramente como alguém que reza e oferta a Deus a sua própria vontade (sacerdote). É necessário também ter coragem, para anunciar a verdade e denunciar toda injustiça e mentira (profeta), pois o mundo cada vez mais mergulha em uma cadeia de ilusões que conduzem à escravidão da ditadura da moda, a superação dos princípios morais, em nome do hedonismo e do relativismo; além de tantas outras coisas que, cada vez mais desfiguram o ser humano de sua verdadeira vida. Também é preciso sabedoria e decisão, para cuidar do mundo, cuidar do meio onde habitamos, preservar e garantir um mundo sustentável (rei). Diante do consumismo desenfreado, temos que assumir esta postura radical de rever os costumes da vida moderna que sempre ofertam novos inventos e apetrechos que "garantem a felicidade".
Caso consigamos caminhar em conformidade com estas dimensões de sacerdote, profeta e rei, podemos ter a certeza de uma vida feliz, apesar de todos os transtornos que podemos enfrentar. Sabemos que aqueles que se decidem por Cristo não estão isentos das críticas e das perseguições, mas, de acordo com as palavras de São Leão Magno: Ninguém tenha medo de sofrer por causa da justiça ou duvide da recompensa prometida, porque é pelo trabalho que se chega ao repouso, e pela morte que se chega a vida.(Dos Sermões de São Leão Magno, papa. Leitura do 2.º Domingo da Quaresma ,Liturgia da Horas Vol. II). É com base nestas três missões que recebemos de Nosso Senhor Deus, que penso o quanto é primordial que todos tenhamos consciência que antes de assumir qualquer outra coisa, vivamos intensamente a vida de batizados. Sejamos firmes e resolutos em não permitir que nada apague em nós a primeira vocação a qual fomos chamados: Sermos filhos no Filho, e diariamente sermos conduzidos pelo forte apelo de Nosso Senhor: Sede santos, porque eu, Javé vosso Deus, sou santo. (Lv. 19,2).Por esta afirmação encontrada nas Sagradas Escrituras, compreendemos então o caminho a percorrer. Sermos santos, independente de sermos leigos (consagrados, casados ou solteiros), religiosos (as) ou sacerdotes (padres). Ao vivermos em conformidade com este mandamento do Senhor, poderemos ter a certeza de que independente da vocação específica e mesmo da profissão, contanto que seja digna, estaremos caminhando rumo à santidade. São Josemaría Escrivá escreveu certa vez: Assim o descobriu aquele torneiro mecânico, que comentava: “Deixa-me louco de alegria essa certeza de que eu, manejando o torno e cantando, cantando muito – por dentro e por fora – posso fazer-me santo... Que bondade a de nosso Deus!” (Do livro Sulco, n.517, p.174. Editora Quadrante). Sigamos assim, irmãos, sempre preocupados em viver bem o batismo e sermos autênticos herdeiros da Graça.
Bruno Sales de Oliveira é professor e também formado em filosofia. Membro do Conselho Pastoral Diocesano.Colabora com este Seminário na formação dos nossos seminaristas na dimensão humana.